CONFIANÇA PARA
SONHAR JUNTAS
"Pra mim, o programa trouxe uma visão diferente para o pessoal aqui da cidade, porque muitas pessoas viam o skate como um esporte masculino e não como um esporte para meninas."
Eu achei que ampliou a visão das pessoas para não terem preconceito", conta Maria Sophia, de 12 anos. O programa a que ela se refere é o Skate pela Mudança Social, da Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), Laureus Sport for Good e Nike, com apoio estratégico da ONG Social Skate. A iniciativa foi idealizada e cocriada com a atleta Rayssa Leal para pensar no futuro do esporte, especialmente para meninas, e fomentá-lo no nordeste, enquanto forma de retribuir à sua região tudo o que o skate lhe proporcionou.
Nordestina como Rayssa, Maria Sophia é de Lagoa de Itaenga, pequeno município pernambucano de 19 mil habitantes, onde faz parte da Associação Conexão Social.
Esta é uma das três ONGs selecionadas pelo edital do programa, ao lado do Instituto Esporte Mais, de Fortaleza (CE), e da Associação Atletas Sal e Luz, de Amontada (CE). Ao todo, estão sendo beneficiadas, desde julho de 2024, 170 crianças, sendo 90 meninas, além da capacitação de dez treinadores e gestores.
O Skate pela Mudança Social oferece mais do que apenas suporte organizacional, recursos financeiros e equipamentos esportivos. Trata-se de um movimento que acredita no esporte enquanto força motriz de desenvolvimento humano e de redução de desigualdades de gênero estruturais na sociedade. Dessa forma, a participação de uma atleta como a Rayssa Leal não é à toa. A jovem tricampeã mundial de Imperatriz, no Maranhão, é idolatrada por toda uma geração de crianças e adolescentes que andam de skate, especialmente meninas, e sua voz é capaz de inspirar a coragem e a confiança que elas precisam para avançar. Nesse sentido, skatista reafirma a importância de ser referência para as mais jovens.
"Eu cresci assistindo aos vídeos de mulheres que vieram antes de mim. Isso me dava motivação para não parar de andar de skate e força para evoluir. Quero inspirar essas garotas para que elas sigam seus sonhos", explica.
E foi nesse clima que, no final de 2024, seis garotas das três ONGs foram escolhidas para assistir à final do campeonato mundial de skate street, em São Paulo, e conhecer a atleta. Junto de seus educadores e dos gestores das organizações, elas tiveram uma semana repleta de emoções, com direito a autógrafos, fotos e conselhos.
"Eu sempre sonhei com isso, desde pequenininha. Inclusive, meu tio que está no céu sempre soube que o meu sonho era conhecer a Rayssa Leal", disse a adolescente Adrielly, de 14 anos. Para ela, que faz parte do Programa Escola Skate Social (PESS), da Associação Atletas Sal e Luz, a experiência mostrou que é possível realizar sonhos.
Entre as atividades promovidas pelo programa durante a viagem, foi realizado um intercâmbio de conhecimento e experiências na ONG Social Skate, localizada em Poá, na região metropolitana de São Paulo. A instituição começou enquanto um projeto na Fundação CASA para dar orientação e oportunidades para os reeducandos, no fim dos anos 90. Há 14 anos, se consolidou enquanto organização da sociedade civil com o intuito de contribuir de forma positiva na vida de crianças e adolescentes socioeconomicamente vulneráveis, com atividades voltadas ao esporte, educação, cultura e lazer. A ONG é considerada pioneira no uso do skate como forma de desenvolvimento humano e social para crianças.
"Quando a gente ficou mais conhecido, começaram a nos tratar com uma certa importância. E eu faço questão de lembrar que é bom ter visibilidade, mas é mais importante ser bom. Em tempos de redes sociais, onde todo mundo busca ser visto e chamar a atenção, as pessoas não podem esquecer disso". Sandro 'Testinha' Soares, cofundador da Social Skate, carrega consigo um bordão - É bom ser importante, mas é mais importante ser bom.
Sandro 'Testinha' Soares, cofundador da Social Skate, carrega consigo um bordão - É bom ser importante, mas é mais importante ser bom.
E não foram só as meninas skatistas que levaram boas recordações da imersão realizada pelo programa. Lucas Roberto, educador da Conexão Social, conta que a principal mudança em sua visão do ensino de skate é que ele deve ir além da prática do esporte e tem a chance de realmente contribuir com uma mudança social.
"Minha ideia, no início, era que queriam apenas um professor para formar skatistas, não para que as crianças saíssem dali com uma mentalidade melhor. Depois das reuniões, eu me inspirei e pude aprender como passar informações que eu já considerava importantes".
Além disso, Lucas foi motivado a se abrir e ser autêntico com seus alunos, uma vez que é nele que as crianças vão se inspirar.
Além disso, Lucas foi motivado a se abrir e ser autêntico com seus alunos, uma vez que é nele que as crianças vão se inspirar.
Laura Silva, educadora do Instituto Esporte Mais, falou sobre a importância de ser uma mulher ensinando meninas. Para ela, é possível estabelecer mais confiança e proximidade, pois as garotas acabam se sentindo mais confortáveis na presença de outra pessoa como elas.
"Eu acredito que uma mulher influencia bastante a outra e no esporte não é diferente. Uma vai puxando o nível da outra e, com isso, vamos desenvolvendo nosso potencial de evoluir", explica. Laura também destacou a importância de trabalhar a parte socioemocional das meninas, para além da parte de manobras. "O programa trouxe vários benefícios, não só para a evolução técnica delas com o skate, mas para melhorar a autoestima e a capacidade de se adaptar das garotas. A gente conseguiu trazer um protagonismo juvenil para essas crianças, desenvolvendo a habilidade de falar em público, perder a timidez e aumentar a confiança delas", comenta.
Os benefícios da parceria foram sentidos também por quem dedica seu dia a dia na transformação social por meio do skate. Miel Alves, responsável pelo programa de skate na Associação Atletas Sal e Luz, conta que a iniciativa foi um divisor de águas na comunidade. "O programa ampliou a nossa visão da importância de ter horários especiais de treino para as meninas e nos deu as ferramentas certas para incentivar e potencializar, não apenas no esporte, mas também na vida". E complementa: "A gente sabe que, infelizmente, no nosso país as meninas não são tão empoderadas e vistas dentro do esporte, mas toda a estrutura que o programa nos ofereceu, com skates, equipamentos, capacitações e recursos para contratar profissionais como assistente social e monitores, potencializou tudo aquilo que a gente já fazia".
É preciso acreditar e fomentar um mundo onde o esporte possa contribuir cada vez mais para uma sociedade onde todas as pessoas tenham oportunidade de vencer. Um mundo onde as garotas sejam celebradas não por serem perfeitas, mas por terem a coragem e a confiança de tentar.
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