Dos campos
de várzea
Alvo de bullying na infância, Yasmim se vê
como referência para próximas gerações
"Bate nela, que ela não aguenta." Dos campos de várzea de
Governador Valadares, em Minas Gerais, quando era uma criança
de cinco anos, até o profissional do Corinthians, Yasmim se
habituou a ser alvo. Mulher negra e jogadora de futebol, conviveu
desde cedo com as adversidades de quem opta por um caminho
culturalmente direcionado aos homens.
- Dos cinco aos 10 anos, eu ficava jogando na rua. Sou muito tímida
e naquela época eu era mais ainda e sofria um pouco. Era ainda
aquela resistência enorme de pai gritar na beirada do campo para
o filho bater na gente, para o filho dar um carrinho na gente.
A fala tímida e a postura retraída fora das quatro linhas, no entanto,
está longe de representar alguém que aceita calada as
adversidades.
Desde o bullying na escola por conta do cabelo à implicância dos
pais dos colegas de time, Yasmim aprendeu a responder e revidar
fazendo o que mais sabe: jogando bola.
- Sempre quando eu entrava em campo as pessoas ficavam com
esse olhar surpreso, de: "nossa, ela realmente é boa, ela realmente
sabe o que ela está fazendo". Sempre tive esse sentimento de que
quando eu entrava dentro de campo, esquecia de tudo e era só eu.
Era esse sentimento o que eu tinha de melhor na minha essência,
de máximo de força, de coragem e resistência.
A coragem e determinação com a bola no pé convenceu o pai,
Carlos, e mãe, Sônia, de que o destino da filha estava ligado ao
futebol. Receio? Certamente. Não era fácil ver a filha ter de superar
inúmeros preconceitos para fazer o que amava. Mas o cuidado veio
em forma de incentivo e ensinamento: não mude seus sonhos pela
opinião alheia.
Governador Valadares, em Minas Gerais, quando era uma criança
de cinco anos, até o profissional do Corinthians, Yasmim se
habituou a ser alvo. Mulher negra e jogadora de futebol, conviveu
desde cedo com as adversidades de quem opta por um caminho
culturalmente direcionado aos homens.
- Dos cinco aos 10 anos, eu ficava jogando na rua. Sou muito tímida
e naquela época eu era mais ainda e sofria um pouco. Era ainda
aquela resistência enorme de pai gritar na beirada do campo para
o filho bater na gente, para o filho dar um carrinho na gente.
A fala tímida e a postura retraída fora das quatro linhas, no entanto,
está longe de representar alguém que aceita calada as
adversidades.
Desde o bullying na escola por conta do cabelo à implicância dos
pais dos colegas de time, Yasmim aprendeu a responder e revidar
fazendo o que mais sabe: jogando bola.
- Sempre quando eu entrava em campo as pessoas ficavam com
esse olhar surpreso, de: "nossa, ela realmente é boa, ela realmente
sabe o que ela está fazendo". Sempre tive esse sentimento de que
quando eu entrava dentro de campo, esquecia de tudo e era só eu.
Era esse sentimento o que eu tinha de melhor na minha essência,
de máximo de força, de coragem e resistência.
A coragem e determinação com a bola no pé convenceu o pai,
Carlos, e mãe, Sônia, de que o destino da filha estava ligado ao
futebol. Receio? Certamente. Não era fácil ver a filha ter de superar
inúmeros preconceitos para fazer o que amava. Mas o cuidado veio
em forma de incentivo e ensinamento: não mude seus sonhos pela
opinião alheia.
- Esse sonho, essa vontade, esse desejo era muito real. Então eu
via alguém jogando bola, eu ficava doida pra jogar, mas não tinha
coragem de ir pedir. Então o meu pai sempre ficava me observando
e minha mãe incentivando pra eu ir lá falar com eles. Sempre
falaram para eu buscar meus sonhos.
A timidez das ruas de Governador Valadares deu lugar à segurança
de uma mulher adulta, considerada uma das melhores jogadoras do
país e ciente do próprio papel na sociedade.
Se aprendeu a superar os desafios jogando bola, Yasmim agora
sabe que precisa passar as lições para futuras gerações.
Eu me sinto uma referência para muitas meninas que querem
começar a jogar futebol, meninos também. Por isso, as suas ações
e a sua conduta, ela conta muito pra isso. Você tem que ter uma
conduta, você tem que pensar sobre a sua conduta para se tornar
uma referência. Mas que seja algo leve também, que seja algo de
dentro de você, não seja aquele negócio forçado.
A certeza de que construiu uma carreira sólida e o amor pelo
esporte faz Yasmim acreditar que um futebol menos preconceituoso
seja possível. Para isso, aposta no que acredita ser uma postura
recorrente no futebol feminino: a união para que as pautas sejam
sempre uma luta coletiva.
- Quando alguém se levanta, as outras devem se levantar também,
sabe? E eu acho que isso tem entrado cada vez mais na nossa
cabeça e no nosso ser. Enquanto uma se levanta, outras têm que se
levantar também. E a gente tá lutando por uma mesma causa
dentro do nosso nicho, mas que também vai reverberar pra outros e
vai reverberar para um negócio mais macro. É assim que acho que
vamos evoluir em todas as áreas. Texto por Elton de Castro
Observatório da Discriminação Racial no Futebol
via alguém jogando bola, eu ficava doida pra jogar, mas não tinha
coragem de ir pedir. Então o meu pai sempre ficava me observando
e minha mãe incentivando pra eu ir lá falar com eles. Sempre
falaram para eu buscar meus sonhos.
A timidez das ruas de Governador Valadares deu lugar à segurança
de uma mulher adulta, considerada uma das melhores jogadoras do
país e ciente do próprio papel na sociedade.
Se aprendeu a superar os desafios jogando bola, Yasmim agora
sabe que precisa passar as lições para futuras gerações.
Eu me sinto uma referência para muitas meninas que querem
começar a jogar futebol, meninos também. Por isso, as suas ações
e a sua conduta, ela conta muito pra isso. Você tem que ter uma
conduta, você tem que pensar sobre a sua conduta para se tornar
uma referência. Mas que seja algo leve também, que seja algo de
dentro de você, não seja aquele negócio forçado.
A certeza de que construiu uma carreira sólida e o amor pelo
esporte faz Yasmim acreditar que um futebol menos preconceituoso
seja possível. Para isso, aposta no que acredita ser uma postura
recorrente no futebol feminino: a união para que as pautas sejam
sempre uma luta coletiva.
- Quando alguém se levanta, as outras devem se levantar também,
sabe? E eu acho que isso tem entrado cada vez mais na nossa
cabeça e no nosso ser. Enquanto uma se levanta, outras têm que se
levantar também. E a gente tá lutando por uma mesma causa
dentro do nosso nicho, mas que também vai reverberar pra outros e
vai reverberar para um negócio mais macro. É assim que acho que
vamos evoluir em todas as áreas. Texto por Elton de Castro
Observatório da Discriminação Racial no Futebol